segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pulsante e silencioso, Amor, ele se declara.

Amor, se um dia este sorriso se apagar, não te preocupes, talvez ele jamais tenha estado lá e você nem tenha tido a chance de perceber. hoje vim aqui para lhe contar das dores e amarguras que meu peito sente. ele pouco se importa em admitir suas fraquezas e temores pra você. hoje eu vim aqui pra lhe falar do que este peito calava, e pra sempre sentiu.
sabe amor, por vezes este meu pulsante e silencioso coração bateu pra você, mas ele decidiu que nem se importa mais; que nem te ama mais. se quer mesmo saber Amor, foi ele quem me fez escrever pra você, porque se fosse por mim teria apenas me mantido. se fosse por mim ainda seria como sempre foi: silêncio que grita tanto que nada no mundo se move.
Amor, não se sinta triste em ouvir isso de mim, aliás é meu coração quem lhe fala, e não eu. como já lhe disse ele pediu apenas pra que te informasse que ele passará a não ligar mais pra você, assim como eu faço. ele pediu para te dizer que a decisão de não te amar mais não foi fácil, mas que ele nem mesmo gosta do que é fácil. esse pobre coração já se sentia tão só que me obriguei por várias vezes a acompanhá-lo, para que ao menos assim ele não sofresse sozinho, ou novamente calado. eu o vi entristecer-se tão frequentemente e repentinamente que foi apenas um ato de "auto-salvação".
foi através de uma desesperada e triste conversa que meu coração me convenceu a lhe falar, ou lhe confessar. ele chorava tanto que deu pena. estranho é reconhecer que eu mesma tive pena do meu próprio coração. ele tomou essa decisão enquanto se lembrava de coisas que nem vivemos ainda. é sim, ele se lembrava Amor, ele não imaginava. pode ser que me perguntes como um coração é capaz de lembrar de algo que ainda nem viveu? deixo a resposta por conta dele mesmo: eu lhe amava tanto amor, mas tanto, que fui capaz de viver nosso futuro antes mesmo que ele tenha chegado. eu lhe amava tanto que fui capaz de amar uma pessoa que você nem se tornou ainda. eu lhe amava tanto que amei as rugas que você ainda nem tem, a bengala que você ainda nem precisa, os feios vidros que se apresentarão diante dos teus olhos, devido a vista cansada, e os cabelos brancos que ainda nem lhe nasceram. eu lhe amava tanto que amei aquela sua mania de inventar palavras que ainda nem apareceu, amei ter que olhar a hora certa dos seus remédios, amei perder as noites de sono pra cuidar de você. eu lhe amava tanto que amei costurar os botões das suas camisas, amei ter que usar a imaginação para lhe dar um presente diferente a cada aniversário, amei tricotar em frente a TV enquanto você assistia ao jogo do time que você ainda nem é simpatizante. eu fui capaz de lhe amar tanto que lhe amarei até o fim de uma vida. mas meu coração? esse já não lhe ama mais.
R.R.
05//01//09
"As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – no que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa. Atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Quero o outro perto, eu distante de mim. Hoje em dia eu nem sei o que sei, e, o que soubesse, deixei de saber o que sabia. A gente só sabe bem aquilo que não entende. Meu coração é que entende, ajuda minha idéia a requerer e traçar."

Guimarães Rosa