domingo, 1 de março de 2009

O pequeno enigma.

ela veio caminhando em minha direção, com a fita colorida nos cabelos e a saia rodada. o salto alto e as bolinhas do sapato de boneca a traziam até mim. chegou com um sorriso pintado nos olhos e nos lábios o meu batom preferido, nenhum. sequer a conhecia e ela já se aproximou e tocou suavemente minha face deixando seu contorno impresso em mim. sentou-se ao meu lado, a algumas cadeiras de distância, o que me impedia de observa-la o tempo todo. mas sempre que cantava eu me inclinava o suficiente para que ela pudesse me enfeitiçar.

depois de um tempo ela já me tratava como seu eu fosse aquele seu velho melhor amigo que esconde por ela uma paixão arrebatadora. ria das minhas piadas e até mesmo do meu silêncio. me olhava como quem tenta descobrir o que existe por traz de uma cortina.

começamos então o jogo. não um jogo entre eu e ela, mas como em uma dança formaríamos um dueto contra os outros que por ali bailam. ela, docemente, alertou-me para sua inexperiência quanto aquilo e eu disse-lhe que não havia problema. e por mais que o resultado tenha sido o pior possível, ela conduziu a dança maravilhosamente bem. jamais vi olhos valsarem tão bem.

a noite veio nos abraçar e acabou fazendo com que eu tivesse que despedir-me dela. disse ela que vivia perto dali, em um lugar onde os pássaros cantarolavam para que seu sapato de bolinhas sapateasse por muito tempo. em um lugar em que os dias eram quase sempre de sol, iluminando o pé de Ipê que ela avistava da varanda. Sorriu com sua suavidade de primavera e disse-me: "moro em um lugar onde talvez nós dois sejamos felizes para sempre algum dia!". Gargalhou da própria ironia, ou não ironia, ou sinceridade, ou fantasia. Sinceramente, minha menina era pra mim um mistério.

mistério que talvez eu nunca mais venha a desvendar.

R.R.
01/03/2009