quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mistério ao vento

~*Limpar o armário sempre tem das suas né? E não é que eu achei um caderno velho?...
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Finalmente me entendi. Calculei perfeitamente a causa de tamanha fixação.

Surpreendentemente me peguei lembrando de um abraço apertado em que meus dedos não conseguiam deixar a sua nuca, meu rosto o aconchego do seu pescoço e meu coração o calor do seu peito. Seus braços não conseguiam parar de envolver minha cintura, seus beijos não deixavam meu pescoço; enquanto seu próprio pescoço não parava de querer o arrepio causado pela minha conversa mansa.

Seus dedos dançavam como pincéis pelo decote que deixava a mostra, até o limite, todo o meu dorso. Dançavam como quem deseja pintar o mundo em pele tão iluminada. Pintavam como quem quer emoldurar aquela tela e pendurá-la no salão principal de um castelo, afim de acaricia-la sempre. As mãos se prendiam a cintura, como a criança faz com o presente que acabou de ganhar...agarra e aperta contra o peito com medo de que alguém lhe leve tamanha satisfação. Com a doçura de quem colhe uma flor recostou teu rosto no meu até chegar ao sorriso mais verdadeiro com que já fui capaz de lhe presentear. Uma das mãos deixou dorso, cintura, pele e se encaixou entre bochechas, orelha e pescoço me fazendo fechar os olhos e me permitindo desejar nunca sair dali.

Mas de repente um vento soprou e meu corpo todo se encheu de frio. Meus dedos se fizeram estáticos sem seus pedidos de carinho para atender. Minha respiração cessou. Se não era para lhe fazer estremecer ela preferiu se esconder. O coração congelou por outro peito não se importar mais em aquecê-lo. Vi seus braços, antes eufóricos, agora quietos, calmos, desapegados. Vi seus lábios secos, calados e solitários. Vi seus dedos fazendo companhia ao meu lugar preferido, te fazendo parecer angustiado; meu lugar gritava não querer aquele companhia, mas você era insistente. Meu lugar transpirava saudade e necessidade...de mim. Meus dedos transpiravam necessidade da sua nuca, meu rosto tranpirava necessidade de aconchego e meu coração tranpirava necessidade do seu calor.

O vento frio soprou você para longe de mim. E foi esse o motivo de tanta fixação. Sempre quis aquilo que me foge ao alcance das mãos, voar mais alto que o céu ou simplesmente querer o que não me queria. O vento fez de você o meu mistério.

Mal sabia ele o quanto eu te leio bem.

R.R.
29/03/09

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Imagine

~*Eu não gosto de colocar coisas que não sejam minhas, mas ai um Amor me mandou isso há um tempo e me fez pensar que as pessoas estão realmente precisando de um pouco mais disso:

"É NAMORO OU AMIZADE?

Coragem, confesse: você assiste ao programa Em nome do amor do Silvio Santos, domingos à tarde. É aquele programa onde garotas e rapazes que nunca se viram mais gordos tiram uns aos outros para dançar ao som de Julio Iglesias, enquanto aproveitam para trocar três palavras. No final da música, Silvio pergunta para cada casal: é namoro ou amizade? Se a menina responder amizade, volta para o banco de reservas. Se responder namoro, ganha um buquê de flores e sai de mãos dadas com um amor novinho em folha.

Já pensou que paraíso se fosse fácil assim?Você está no bar da faculdade tomando um suco quando surge aquele colega que é um gato e que só faz uma cadeira nas quintas. Ele vem na sua direção e sorri. É seu dia de sorte. Está cada vez mais perto. Finalmente chega e lhe entrega um minidicionário Aurélio. "Você deixou cair ali fora". Antes que você consiga dizer obrigada, ele dá meia-volta, mas não consegue dar um passo. Silvio Santos está de microfone na mão interrompendo a fuga: é namoro ou amizade? "Namoro", responde você. A platéia do bar aplaude, você segura a mão do cara e não larga nunca mais.Você está de bobeira no posto de gasolina, sábado à noite, encostado num Kadett. Sua cerveja está ficando quente e você não tem mais um tostão no bolso. Olha para o relógio: hora de saltar fora. Nisso surge uma clone da Cameron Diaz e pede licença para sair com o carro. Você desencosta. "Está bem cuidado, princesa", diz naquele seu jeito cafajeste. Ela entra, tenta arrancar mas quase atropela Silvio Santos, que surge não se sabe de onde, perguntando à queima-roupa: é namoro ou amizade? "Namoro", responde você entrando no Kadett da loira. Arranjou uma carona e uma paixão.

Você é divorciada e não é uma ninfeta: quase já esqueceu para que serve um homem. Está no cinema sozinha, pra variar. Nisso entra um cinquentão boa pinta, sem aliança no dedo. Senta quase ao seu lado, apenas uma poltrona os separam. As luzes ainda estão acesas e na fila da frente três retardadas não páram de rir e de fazer barulho com o papel de bala. O bacana olha pra você e diz: "Espero que, quando o filme iniciar, esse frege termine". Ele fala frege, como você. Feitos um para o outro. Nisso Silvio Santos materializa-se na poltrona do meio e lasca: "É namoro ou amizade?" Você agarra o microfone: "Namoro". Silvio sai de fininho, você pula para a cadeira do lado e assiste todo o filme com a cabecinha apoiada no ombro do tipão.

Ou você põe a imaginação pra funcionar ou se inscreve no Em nome do amor. Mas vai ter que agüentar o Julio Iglesias. "

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Selo

Bom, eu fui indicada, então aqui estou (apesar de achar que nem mereço=X). Os selos são concedidos apenas por indicações feitas por outros blogs, e os indicados tem de responder as perguntas em um post e colar os três selos seguintes. Então, vamos a eles:


1)A primeira música que lhe veio na cabeça agora:
R: Codinome Beija-Flor -Cazuza

2)Uma música pra curtir com a paquera/namorado:
R: depende de quem for a “paquera”=X

3) Uma música muito romântica (o que se pode dizer de: "seu tema de amor"):
R: Novamente depende, mas vai: Último Romântico – Lulu Santo (tema de vida eu diria, e não de amor.)
4) Uma música pra tirar a roupa = strip-tease:
R: Danni Carlos- Fever

5) Uma música para uma boa transa (a transa pode até ser ruim, mas a música ótima):
R: Por acaso alguém vai prestar atenção na música?! =X o.O

6) Uma música "I WILL SURVIVE" = hino gay:
R: Ricky Martin – Livin’la vida loca!

7) Uma música que saiu do lixo / ou pra jogar no lixão:
R: Não vale mais chorar por ele –Ivete Sangalo, ou seja lá quem cante essa coisa.

8) Uma música que você ama, mas o DJ insiste em não tocar na balada:
R: Puro Êxtase – Barão Vermelho =)

9) Uma música da hora (música que está na moda e você adora!):
R: Martelo Bigorna – Lenine (não está na “moda”, mas eu gosto!)
10) A música que você mais gosta em todo mundo:
R: Impossível escolher só uma.






Segundo bloco de perguntas para o outro selo:
- Uma música mágica:
R: Pai – Fábio Junior
- Um filme mágico:
R: O amor pode dar certo.

- Uma viagem mágica:
R:” Um carro, tanque cheio, rumo a lugar incerto.” ( a resposta foi copiada, mas não poderia ser melhor!)






Meus indicados aos três selos acima são:

















Lah.










Bela.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

(Des)espero

ainda tenho a esperança de estar errada. ainda sinto vontade de que meu saber esteja errado e que a mágica se faça de novo. esperança tola, burra, errada, desgraçada. esperança faminta. esperar. detesto esse verbo. ficar a mercê de algo que é quase, algo que é completamente improvável.

quando sinto os sabores diversos que o vento traz, não sinto vontade de provar do gosto da espera. espera é quase bom e é quase ruim. desde quando algo que é quase tem gosto de alguma coisa? pode até ser que certas coisas tenham seu gosto: ciúme é picante, amor é doce, desilusão é amarga, mas cada um deles tem seu mistério bom. espera só tem gosto desgostoso, e quanto maior ela fica, menos saborosa se torna. ansiedade é bom. ansiedade é tempero na medida certa. espera é maldade. esperança. espera.

sentar e admirar o sol se por é bom. esperar para que ele se ponha é chato. que ninguém tenha que esperar o sol se por ao lado de outro alguém; mas que todos um dia admirem acompanhados o perfume que a Lua traz consigo quando nasce.

será que a espera é tão vazia como eu acho que é? será que ela é desatino? será que minha sede de matá-la vem do, sempre presente, ódio pela perda de tempo? será que só eu que a desgosto tanto? espera - não tem nada para deixar a quem lhe é alheio, não ocasiona nada, não revela nada, não traduz nada e nem ama a ninguém. e ainda assim esperam.

apesar de brincar tanto de me esconder dela, esperei. esperei incontáveis vezes pelas coisas mais variadas. esperei o máximo que se pode esperar do tempo, dos outros e até de mim. esperei do tempo algum acontecimento meteórico que fosse mudar o curso da vida. esperei dos outros, ou de seus corações, sensações e ações (in)discretas que me fizessem sentir vontade de viver. esperei de mim mudanças astronômicas. esperei o máximo que se pode esperar. O que eu ganhei? menos tempo, menos 'outros' e um pouco menos de mim.

a única esperança que eu quero ter agora é de que essa espera um dia vá morrer!
(se é que eu não acabo de cometer um crime)

R.R. 09/09/2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Transparência

sinceramente eu não vim aqui pra escrever qualquer coisa sobre qualquer outra coisa. vim tentar desabafar essa minha esteria - já que olhando em olhos, que não são mais os teus, eu não consigo. sinceramente estrela do meu céu, eu não vim aqui pra gritar pra você a falta que você me faz, eu não vim aqui pra te dizer que a saudade está cada vez mais insuportável. sinceramente eu não vim aqui implorar mais. eu vim me colocar a disposição pra sentir por você. sinceramente anjo meu, vim apenas me confessar.

sinceramente eu não vim aqui para contrariar as falsas idéias, de pessoas mais falhas que seus próprios pensamentos. sinceramente não vim aqui para tentar encontrar explicações e menos ainda para dá-las. sinceramente eu vim aqui para lhe contar sobre esse arrepio que faz com que eu sinta a minha própria dor exalando pelos poros. eu vim para lhe contar que quando fecho os olhos tudo que eu mais desejo é poder me afogar nas tuas janelas, que eu sinto aqui, tão perto, mas que se desfazem tão depressa quanto o meu abrir de olhos.

sinceramente eu não vim aqui para dizer que o caminhar destas pernas parece meio exausto, medroso, angustiado. eu não vim aqui pra dizer que tudo parece fora do lugar, que o dia está sempre mais longo e que cada segundo de espera pra que esse tempo passe mais rápido significa uma lágrima a mais. sinceramente vim aqui para encontrar você.

sinceramente eu não vim aqui para secar esse rosto, para tentar sanar esse aperto que faz de mim tão menor. sinceramente eu não vim aqui para lembrar-me que perdi, e que contra isso eu não tenho como lutar. sinceramente eu vim aqui para abraçar você.

sejamos sinceros, confessei-me apenas porque ao abrir meus olhos não te encontro mais, e isso significa sempre um dia a mais sem o seu abraço. Sinceramente? se é pra ser assim prefiro que os dias não passem...

R.R.
08/09/09

terça-feira, 25 de agosto de 2009

"Só falta você"

chega de palavras robustas e de um fingimento emocional inflamado. tudo que eu queria era um pouco mais daquele seu simples olhar de sinceridade, que me arrancaram dos braços e eu não tive nem a chance de impedir. chega de tanta vontade; pelo amor de Deus...chega!

hoje peguei o telefone pra te ligar. peguei mesmo, eu ia ligar e te pedir pra vir matar a minha saudade. chega a ser meio vergonhoso confessar isso, pode até soar como loucura, mas tudo não passa de saudade. e que eu seja considerada louca então, mas não pode haver nesse mundo insanidade maior do que a de não poder te abraçar de novo.

não há um dia sequer que eu deite a cabeça naquele travesseiro e não sinta enlouquecidamente a sua falta. uma falta de escutar aquela sua risada gostosa que me fazia rir; aquele seu jeito besta de me dizer que eu não sabia experimentar as coisas boas da vida; aquele seu jeitinho de fazer carinho quando alguma coisa aqui dentro me incomodava. não há um dia sequer que eu não sinta uma angústia profunda por não poder pedir seus conselhos, ou te dar aquele abraço e urso que só você tem. não há um dia sequer que eu deixe de lembrar alguma coisa que você falava sempre, ou um trejeito, ou simplesmente veja alguma coisa acontecer e imagine o que você faria ou diria.

eu não quero ter paciência e nem quero esperar o tempo passar, porque eu sei que isso que me aperta aqui dentro só vai passar quando eu puder te ter do meu lado de novo; e eu sei que isso não vai mais acontecer. eu não quero pensar que você deixou de brilhar aqui do meu lado pra iluminar ainda mais esse céu; lá já tem tanta estrela, pra que mais uma? volta? fica um poco mais comigo?...

quando eu sentia que não ia conseguir mais você sempre aparecia com aquele jeito de quem não quer nada e fazia eu me sentir protegida. quando eu achava que seria só mais um dia sem graça você apenas sorria pra mim e fazia ser só mais um dia especial. quando eu dizia não você não descansava até conseguir um sim. quando tudo era inverno, você me fazia sentir como se fosse a mais linda das primaveras.

hoje faz frio. o céu chora ali fora e dentro desse coração também. essa ausência causa uma solidão sem solução, uma necessidade de você que eu nem conhecia, e nem sabia que tinha. meu peito chora; não chora mais de saudade, mas sim porque não consegue matá-la. eu posso fazer o que for, correr pra onde for, implorar pelo que for, mudar o que quiserem que eu mude, mas eu sei que por mais que eu olhe por essa janela não te verei mais. aqui dentro fica tudo tão vazio. eu olho por ela e não posso te ver e nem te ouvir mais colocando uma música me convidando pra dançar...ter isso só como lembrança dá um gosto tão amargo a elas.

pra sempre os dias serão de inverno. esses pés nunca mais valsarão no compasso dos seus passos. e esse sorriso nunca mais terá o mesmo brilho, porque parte dele era você e agora você reluz onde eu não posso mais te alcançar.

R.R.
25/08/09

segunda-feira, 27 de julho de 2009

licença ao Sr. Santos

...mas faço minhas as suas palavras:"tanta farpa, TANTA mentira, tanta FALTA DO QUE DIZER, nem sempre é so easy se viver!"

eu não queria nada "easy"; mas verdades tornariam a tarefa de viver um pouco menos difícil de aguentar! ;D

sábado, 4 de julho de 2009

"NADA"

acabamos por nos olhar tantas vezes, você me fazendo inúmeras perguntas e eu sem ter a mínima idéia de como respondê-las. no sussurro da sua dor eu sentia uma angústia e não sabia como te fazer suspirar sorrisos de novo.

você queria entender o pq de duas almas que diziam se amar simplesmente se desencantarem. você queria entender pq seu coração vivia por um sorriso que não sorria sequer por você ou pra você. você queria entender pq o beijo era tão gelado. você queria entender pq a porta da frente antes escancarada agora não lhe deixava sequer uma frestinha para espiar o que se passa lá dentro.

Você chorou e eu não podia nem abraçar tamanha tristeza, porque a resposta do que você me perguntava não era eu. Respostas que me confundiam e me davam certezas que, ao mesmo tempo que eu sabia que você deveria conhecer, te fariam chorar ainda mais. Não pude abraçar suas tristezas; e chorei.

Você enlouqueceu e eu não pude sequer me afastar. Afastar-me significaria ver-te chorar longe, e se eu permitisse isso deixaria que se sentisse só, quando não o estava. E quando você me permitiu chegar perto aconteceu o que eu chamaria de suave encaixe: corações próximos, quentes...e não diria nada mais que isso.

Quando me aqueci chegando a sorrir abobalhadamente, disfarcei. Fiz de conta que não gostaria de sentir saudade de ter saudade. Me comportei como se não quisesse sentir tanto carinho por mais tempo. Disfarcei e tentei esconder o prazer que meu corpo sentia em estar ali. Disfarcei e fiz de conta que a minha alma não se sentia plena te tendo ali. Escondi sensações e desejos, e ainda os faço, graças a não ser suas respostas.

A pele ficou mais flácida, algumas rugas apareceram e, como quem tropeça distraidamente em uma pedra quando caminha, consegui responder a todas as suas perguntas. O desencantar de almas se deu pq aquela que não era a sua conheceu outra alma mais apaixonante. Seu coração vivia por alguém que não sorria mais por você - aquele riso já pertencia a outro coração. O beijo era frio porque outros lábios tinham roubado o calor do seu sabor. A porta se fechou pra você e se escancarou pra outros olhos. A resposta era simples: você me perguntava sempre sobre alguém que já lhe tinha como sendo um nada, e assim não se importava com suas perguntas e menos ainda em respondê-las.

Um dia espero que se lembre que tentei não morrer pra você, tornando-me um nada, como um dia você tornou-se pra alguém. Tentei abraçar suas tristezas, não me distanciar das suas loucuras e assim encaixar-me nas suas bobas delicadas e diferentes maneiras de ser. Um dia eu espero que aquele encaixe que eu tive suavemente se transforme num encaixe perfeito. Um dia eu espero que você se lembre de você. Ou de quem você foi quando sorria de verdade.

R.R.
04/07/09

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Singularidade

Seis. Seis bilhões. Eis o número estimado de pessoas que vivem nesse mundo.

São seis bilhões de rostos diferentes, seis bilhões de sorrisos. Seis bilhões de desejos, vontades, aspirações. Seis bilhões de corações pulsando, respirações ofegantes, calmas, sinceras, levianas. Seis bilhões de vidas solitárias, em família, amadas, desprezadas, ingnoradas. São seis bilhões de almas.

São seis bilhões de seres humanos no mundo e eu não conheço nem 1% disso tudo. Como eu posso ser capaz de escolher uma pessoa só, em meio a esse mar de gente, pra me fazer feliz "pro resto do meu hoje"? Bilhões de trejeitos distintos, de gênios únicos e de almas interessantes a solta por todos os lados, e ter que escolher um só gosto pra amar? Envolver-se com esse e não com aquele significaria uma vida segura, com uma família linda e um ótimo emprego, numa casa branca de jardim florido. Ou quem sabe eu não vá gostar de um pouco de insegurança, saudade da família e um emprego que paga mal, mas que é a verdadeira paixão da minha vida? Onde será que o amor escolheria pra se esconder tendo seis bilhões de opções completamente diferentes?

Cada uma dessas almas deve ter a sua história, e sendo bastante realista, nós dois morreremos sem conhecer sequer a metade dessas histórias. São médicos, psicólogos, dentistas, advogados, oceanógrafos, porteiros e ainda restam aqueles profissionais adeptos do que meu amigo google chama de 'profissões estranhas'. Morreremos sem talvez ter a chance de conhecer um "expert em cheiro de carro novo", uma "carpideira" ou um "treinador de pombo-correio"!

Pensando sempre nas outras 5.999.999.999 é que a gente acaba se esquecendo de prestar atenção na única pessoa em meio a esses bilhões que realmente guarda os segredos dos quais a gente precisa saber. Você esbarra com aquele homem de uns 10 anos a mais que você no balcão da padaria, que sorri de um maneira única pra você, e acaba nem se dando conta e que talvez fosse só aquele sorriso o capaz de te contar os segredos que você precisa saber. Descendo pelo elevador do prédio entra aquele bonitão que sempre passeou pelos seus sonhos. Durante a descida entra aquele seu feinho 'amigo' de infância que sempre foi apaixonado por você, mas de tanto prestar atenção no bonitão você nem se da conta de que ele está ali...afinal, ele SEMPRE está ali, não é mesmo?

Dentre esses bilhões você vai conhecer(se é que já não conheceu) aquela pessoa que vai responder as suas perguntas antes mesmo de você fazê-las. Você vai encontrar aquele que te beija da maneira que você gosta, mas que tem a mania que mais te irrita. Você vai dar de cara com aquele que tem o coração mais lindo do mundo, mas o rosto nem tanto. Você vai achar a pessoa que ri das suas trapalhadas, que se atrapalha com você, que sabe como conseguir tudo de você, que sabe como negar as coisas a você e que sabe quando dizer sim. Você vai encontrar aquele que só de estar perto da vontade de dar beijo, tapa, abraço, aperto de mão, cafuné, mordida, carinho...tudo isso de uma vez só! Vai achar o dono das borboletas no seu estômago, o dono do seu sorriso, o dono do carinho mais gostoso. Vai conhecer aquele que se encaixa direitinho nos seus braços. Nesse mar de gente você vai encontrar aquele que sabe todos os seus detalhes, manias e suspiros. Você vai acabar enxergando que todos esses são um só. E é ai que você ser capaz de encontrar a sua própria alma no meio de tantos bilhões.

No final das contas você vai perceber que o coração que o amor escolheu pra se esconder era o seu, que a alma que você tanto procurava entre a 'população mundial' apareceu quando você deixou de procurar...ou que as vezes ela era o amigo feinho do elevador e você insistia tanto nos bonitões.

08/06/09

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Vida rasgada

Eu estava simplesmente observando a tarde passar quando olhei pelo reflexo da vidraça e vi uma caixa velha, empoeirada, em que eu guardava minhas memórias. Abri e ali encontrei rascunhos amarelados de histórias que nem eu msm sei o ponto de partida e nem se chegaram a algum lugar.

Ali eu encontrei memórias mortas que acabaram renascendo e me fazendo sentir a mesma emoção que se passou quando tudo aquilo aconteceu. Quando virei aquela caixa de cabeça para baixo encontrei bem lá no fundo, no papel mais velho e talvez por isso mais rasgado, uma lembrança encantadoramente machucada. Abri-a e ela começou a discorrer pra mim sobre tudo aquilo que eu vivi, senti, chorei, cuidei, salvei, ajudei...amei. Ela contou pra mim sobre a carta que acabou-se em lágrimas.

Tudo começava falando sobre uma promessa que a mulher havia feito pra si quando ele a fez chorar muito. Uma promessa que ela confessava ter quebrado por não saber se esconder daquele que sabe ver a alma.Da sua jura ela saltou para a saudade. Manifestou a saudade que sentira de sua música preferida, enquanto ela esteve silenciada, manifestou a saudade sentida da presença, da segurança, do cuidado. Manifestou saudade de quando as lágrimas eram enxugadas por ele ao invés de causadas, da brisa ocasionada pela respiração, do abraço, do perfume, do ponto fraco. A menina manifestou saudade apenas daquilo que sentira. Manifestou saudade da saudade.Falou sobre o burburinho que a incomodava sempre: uma felicidade de meia tigela que não floreia a essência de ninguém e pinta a pele de tons de cinza. Um alegriazinha simplória que de vez em quando fazia sorrir e de vez em quando parecia que o mundo ia mesmo era cair. Questionou os motivos de gostar de tão pouco e como ele sabia não ser completo. Confessou mesmo ser daquele que ama, mas que deixaria de sê-lo, não por escolha, mas por precisar respirar e deixar de se sufocar.A mulher se emocionou ao professar novamente a ele as três palavras que tanto lhe faziam tremer as pernas, mas sentiu-se aliviada quando pode incriminar-se. Ela chegou a ter a sensação de que estava sendo beijada, mas sabia que isso seria apenas um gesto representando tudo aquilo que acabava de confidenciar. Chegou a ter a sensação de que estava sendo abraçada, mas pena que sabia que esse efeito era causado apenas pelo medo de nunca mais provar daquele afeto.A emoção a encontrou mais uma vez quando ela disse-lhe que estava apenas se despedindo, porque sabia que aquela carta não começava com 'era uma vez' e nem terminaria como esse tipo de histórias. Disse-lhe que chorava porque sabia que talvez fosse sua última chance de dizer-lhe qualquer coisa e não tinha coragem para terminar de fazê-lo.Terminou com um calafrio e um pedido de perdão...mas não pelo mal que já havia se passado, mas pelo bem que não mais viria.

Depois de ver tamanha consternação naquele papel velho, chorei. Chorei por não ser capaz de dar a ela flores, por não ser capaz de clarear aquele papel, e ainda por ele estar em destroços e não saber como remendá-lo. Mas chorei principalmente porque mesmo sabendo que era papel velho, inutilisável, remendado, dilacerado, tinha uma história linda que merecia ser respeitada. E mesmo assim eu sabia que aquela carta nunca teve e nunca terá resposta.

R.R.
07/05/09

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Amar é fácil...

ela estava com seus fios encaracolados, cintilantes e dourados encantadoramente soltos. estava acompanhada daquele seu vestido de boneca com algumas flores, num misto de tons que combinavam com aquele profundo verde de seus olhos e com o azul cristalino dos olhos dele.
sentados estavam e ele esperava que ela se despedisse com aquele doce tocar de lábio em pele, como sempre fizera, mas desta vez seria diferente. a moça com sorriso doce pela primeira vez o olhava verdadeiramente. pela primeira vez parecia que ela o deixaria mergulhar no que lhe era mais profundo. pela primeira vez ela o enxergaria como quem por ela sente.
ele antes já havia tentado encontrar a pureza da alma daquela doce, mas ela era relutante e parecia até mesmo amedrontada. ele sabia que o nome daquilo que o movia era paixão, por ela, e disse-lhe isso...mas nem mesmo a pequena conseguia entender porque tantas vezes olhava e não o via.
como havia prometido ele apenas a deixou em casa e para apenas poder desfrutar de sua companhia não mais tocaria no assunto 'eles'. para sua estranheza dessa vez quem começaria o assunto seria ela e quem lhe deixaria com a face corada ainda seria ela. ela disse coisas que lhe calaram a boca e despertaram o coração. como que por um milagre ela decidiu que retribuiria seu apreço...e deu-lhe um beijo. deu-lhe um beijo e quando terminou lhe sorriu da maneira mais meiga que ele poderia esperar. quando terminou ele sentiu que a alma lhe havia sido beijada. abraçou aqueles melosos lábios novamente e lhe sorriu de volta. desta vez além de um doce sorriso conseguiu dela um olhar. hipnotizaram-se, decidiram-se: eternizariam-se.
R.R.
29/04/09

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Talvez mais uma, talvez a última.

não queria ser eu a dizer isto, mas ao mesmo tempo não desejo que outras bocas pronunciem o que diz respeito só a mim. não quero que sejam outras bocas a lhe dizer o que inflama esse peito, não quero que sejam outras bocas a lhe dizer que olhos choram, não quero que sejam outras bocas a lhe comunicar: desisti.


desisti de achar que amanhã vai ser um dia mais bonito, que alguma coisa individual pode mudar ai, e que o sorriso pode passar a ter gosto de amanhecer. desisti de tentar encontrar na alma uma essência que nem tem mais cheiro de cristal; ou as vezes o aroma ainda exista, mas está em tantos pedaços quanto esse cristal.......ou quanto a alma. desisti de balançar as mãos acompanhadas, sem medo de que as paredes ouçam até o som que a brisa do balanço deste nosso nó faz. desisti de tenta fazer sorrir olhos que só querem chorar. desisti de tentar fazer enxergar um cego. desisti de levantar alguém que nem se conhece. desisti de acordar e esperar um bom dia, de sair e querer escutar um 'não vai' e de voltar e continuar tudo com estava. desisti de me conformar com tudo como estava. desisti de me conformar. desistir de persistir. desisti de dizer que não desistiria. desisti de buscar o caminho difícil. desisti de achar que era errado desistir, até pq já vi desistirem tantas vezes, o que me custa desistir um pouco?

desisti de encarar os fatos como incertos, de encontrar neles uma dúvida, de ter esperança. desisti de ver o que queria ver e passei a ver apenas o que é. desisti de fazer de conta. desisti de tentar não falhar, de ser humana, de corrigir erros e até de acertar. desisti de tentar juntar pedaços da foto rasgada, afinal ela já foi rasgada. desisti da inocência. desisti da mudança. desisti da covardia. desisti do desespero, das falhas, da perfeição. eu apenas, desisti.
desisti de esperar um abraço. desisti de querer. desisti de sentir saudade. desisti de sentir.


que alguns chamem minha desistência de covardia.
que alguns chamem minha desistência de fraqueza.
que alguns chamem minha desistência de desabafo.
que outros a chamem de mais uma.

desisti também de alguns...
e de outros.
R.R.
18/04/09

segunda-feira, 13 de abril de 2009

e eu que aprendi a chorar menos, a ser menos sensível e a deixar de sentir dor. tantas vezes disse não ser capaz de fazer auto-reconhecimento, e nunca houve alguém que me desse razão.

era menina de choro fácil, de coração mole, de dores frágeis e de inconstância sentimental. era sonho em essência, era certeza de alcançar o desejado. era menina capaz de correr atrás de estrela cadente. era: verbo ser,2ª conjugação, na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito. simplesmente era, e isso era a satisfação por completo.

parece que a gente cresce e se amargura. pra uns pode parecer escolha, pra outros nem tanto. o fato é que a vida vai levando a gente, e quando a gente se vê já não sabe se é quem os outros acreditam que nós somos, ou se somos quem desejam que sejamos. e talvez nem possamos ser mais quem queremos ser. a gente vai deixando de ser a gente, deixando de ser gente, e acaba se transformando naquele bando de qualquer gente que antes achava qualquer coisa a nosso respeito. no fim a gente acaba nem sabendo quem quer ser, ou se, de fato, somos ou deixamos de ser.

talvez não tenha ainda um choro difícil, mas aprendeu como sufocá-lo. talvez sinta vontade de chorar, mas as lágrimas lhe faltem. talvez o desabafo daquele peito ardido que antes saia pelo soluço tenha se transformado num silêncio calado. e talvez porque desaprendeu a chorar vive triste a sofrer. o coração já não sofre com pena de si mesmo, e menos ainda pena alheia. coração metade pedra, metade gente. talvez a dor tenha se feito pedra...e o coração mais duro ainda. talvez a essência ainda exista, mas deixou de ser essência. sonho deixou de ser vital e passou a ser normal. as certezas são mais incertas do que nunca e corres atrás de estrelas hoje é apenas coisa de menina.

era..........um pretérito que talvez nem seja tão perfeito assim.

R.R.
13/04/09

quinta-feira, 2 de abril de 2009

tempo

saudade de um jeito de não fazer nada. saudade de um jeito bobo de brincar. saudade de um filme horrivel. saudade de um ponto fraco. saudade de observar enquanto passava os olhos pelas letras. saudade do sorriso timido quando se viu observado. saudade daquele elogio. saudade daquela inocencia. saudade da confiança. saudade do abraço dizendo aquilo que a boca calava. saudade do choro angustiado. saudade do choro sem graça. saudade do colo aconchegante. saudade do carinho bom. saudade do soninho bom. saudade de dizer boa noite. saudade de andar e mãos dadas. saudade de um amor diferente. saudade dos sonhos. saudade das palavras doces. saudade das danças. saudade de flutuar nos braços. saudade de ouvir falar da estrela cadente. saudade dos segredos. saudade do que a madrugada fez revelar. saudade do beijo. saudade dos planos compartilhados. saudade de um companheirismo sem limite. saudade do cavalheirismo. saudade do cheiro bom. saudade do acolhimento. saudade das pernas bambas. saudade de sentir um aperto de mão. saudade de tirar o peso das costas. saudade de um coração quente. saudade de uma blusa quente. saudade do menino da blusa vermelha.

saudade,

R.R.
02/04/09

domingo, 29 de março de 2009

ESPELHO

já que estou aqui, diante de você, e olhando nos meus próprios olhos, vim aqui para me confessar. pra poder te explicar de onde vem tantas lágrimas, tantos tormentos, momentos. vim aqui me confessar porque já não consigo mais olhar dentro dos meus próprios olhos e me ver tão triste.

o nome do meu caminho vem sendo decepção. parece que o raio de sol que entrava pela janela logo cedo se transformou em gotas de chuva, que batem nessa janela parecendo que querem quebra-la. e vão! parece que minha vontade de me entregar a vida foi levada pelo vento como a poeira da minha velha escrivaninha. decepcionei-me ao procurar o lado diferente que eu sempre achei que todas as pessoas tinham. quando procurei naquelas que desgostava, acabei me sujando. e quando fui até aquelas que eu pensava conhecer, acabei chorando.

olhei nos meus olhos e não me vi mais criança...não me vi mais brincando de sorrir pra vida, de dar cambalhotas, nem de dançar na chuva, de gritar ou rir sem nem precisar de motivo. descobri um mundo tão errado, tão torto, que nem na minha velha crença de que é preciso errar sempre eu sei se acredito. o que parece é que eu consegui ensinar isso às pessoas, mas elas aprenderam do jeito que elas queriam, e não do jeito que podia fazê-las acertar. erros inconsequentes machucam as pessoas. erros sinceros crescem a gente. vejo tanto preto e branco ultimamente que até nos abraços que pintavam vida eu deixei de ver cores...alguém tomou aquelas cores de mim e eu sequer sei a razão.

quando olho nos meus olhos vejo que a vela que sempre esteve acesa aqui dentro conserva um fogo quase frio, vejo que a chama que eu acendi pensando que podia mudar a vida foi apagada. as pessoas sopram forte e a gente nem percebe. não fazer a diferença, ou não ser a diferença, dói. o meu olhar me diz que tanta mentira chega a tirar o fôlego. chega a dar vontade de olhar mais de perto o bater das ondas.

o meu olhar olha para as estrelas e ao invés de ter vontade de correr até elas, apenas chora.

fica cada dia mais difícil olhar dentro dos seus olhos, ou de mim, ou de você.

R.R.
29/03/09

segunda-feira, 9 de março de 2009

Um jogo a sós

os que me viram devem ter pensado que eu estava em um momento de insanidade ou qualquer coisa assim. alguns outros poucos sentiriam pena. e aqueles outros alguns simplesmente diriam que era algum ato sem sentido de uma desocupada.

peguei a cadeira velha, de palha, da perna torta e a coloquei bem no centro do campo vazio. a grama umidecida pelas gotinhas daquela chuvinha fina e gelada que caia. chuva fina e noite fria. do lado de fora do alambrado abraçado pela ferrugem, apenas escuridão, escuridão, escuridão e escuridão. no seu interior o que me fazia conseguir enxergar eram aqueles gigantescos holofotes, e todos direcionados para onde me sentei.

mergulhei meus pés, até então quentinhos, naquele mar verde e senti uma cosquinha por entre os meus dedos. aproximei meus joelhos, recostei minhas mãos sobre as borda da cadeira e inclinei-me pra frente pra poder observar melhor o mergulho. enquanto os observava brincar e sorrir daquela sensação, lembrei-me de que havia tempos que eu e as estrelas não conversava-mos. levantei minha cabeça rapidamente para chamá-las mas, como já era de se esperar, meu jeito desastrado foi com impulso demais e eu e a cadeira agora estávamos de pernas pro ar.

coloquei as mãos no rosto, me envergonhei e ri da minha própria falta de desenvoltura. ah, que maravilha foi quando essas mãos resolveram deixar meu rosto e gritar as estrelas.
deitada ao lado da cadeira, que ainda estava de pernas pro ar, me emocionei. não sei se foi a beleza delas, se foi a gentileza em atender meu chamado, ou se foi só um efeito chamado saudade. levei minhas mãos até o peito e apertei-as contra ele como se assim elas fossem conseguir chegar até a falta e arrancá-la de mim. infelizmente por mais força que eu fizesse, ela não queria sair de mim.

quando vi que por mais que meu grito fosse forte elas não se aproximariam de mim, deixei de olhar pro teto e virei meu olhar para a escuridão depois da ferrugem. admirando-a percebi que não éramos tão diferentes quanto eu pensava. eu dotada de tanta pequenez, ela tomando conta de uma imensidão. ela feita de tons sombrios e eu de pele tão clara. eu na minha voz alta, fina, escandalosa, ela no seu silêncio e mistério. mas apesar de tanta diferença, dentro de mim eu era tão escuridão quanto ela. imensa, pintada em tons sombrios, silenciosa e misteriosa.

já não estava mais rodeada de escuridão, agora eram espelhos. e um dos meus espelhos foi ofuscado por um brilho estranho que enquanto eu secava o olhos me distraiu. o brilho no teto me chamou e de nada adiantou tentar secar aquela água que saia dos olhos, porque ela insistia em molhar de novo esse rosto amedrontado. olhei aquele brilho intenso lá em cima e quis voar até ele. senti o vento dançar com castanho cumprido dos meus cabelos e o choro ruir pela lateral dos meus olhos. comecei a escutar aquela música que parecia não ser nada além de uma canção. dizia pra que eu me entregasse a suavidade de tudo aquilo, pra que tentasse encontrar uma lado diferente. me perguntava por que havia tanta vida sufocada abaixo das estrelas. a canção pedia pra eu me lembrar do dia em que vi esse brilho pela primeira vez, quando demo-nos um laço pela primeira vez e de como a vida mudou depois disso.

me levantei e me convidei para dançar enquanto ele cantava pra mim. dancei por tamanha imensidão. dei um nó com os braços em volta do meu próprio corpo e chorei de saudade.

parei com o tango, sentei-me, limpei as lágrimas mais uma vez e tomei dele o microfone. pelo menos por um bom tempo não haverá mais brilho e menos ainda uma canção pra ser dançada...

R.R.
09/03/09

domingo, 1 de março de 2009

O pequeno enigma.

ela veio caminhando em minha direção, com a fita colorida nos cabelos e a saia rodada. o salto alto e as bolinhas do sapato de boneca a traziam até mim. chegou com um sorriso pintado nos olhos e nos lábios o meu batom preferido, nenhum. sequer a conhecia e ela já se aproximou e tocou suavemente minha face deixando seu contorno impresso em mim. sentou-se ao meu lado, a algumas cadeiras de distância, o que me impedia de observa-la o tempo todo. mas sempre que cantava eu me inclinava o suficiente para que ela pudesse me enfeitiçar.

depois de um tempo ela já me tratava como seu eu fosse aquele seu velho melhor amigo que esconde por ela uma paixão arrebatadora. ria das minhas piadas e até mesmo do meu silêncio. me olhava como quem tenta descobrir o que existe por traz de uma cortina.

começamos então o jogo. não um jogo entre eu e ela, mas como em uma dança formaríamos um dueto contra os outros que por ali bailam. ela, docemente, alertou-me para sua inexperiência quanto aquilo e eu disse-lhe que não havia problema. e por mais que o resultado tenha sido o pior possível, ela conduziu a dança maravilhosamente bem. jamais vi olhos valsarem tão bem.

a noite veio nos abraçar e acabou fazendo com que eu tivesse que despedir-me dela. disse ela que vivia perto dali, em um lugar onde os pássaros cantarolavam para que seu sapato de bolinhas sapateasse por muito tempo. em um lugar em que os dias eram quase sempre de sol, iluminando o pé de Ipê que ela avistava da varanda. Sorriu com sua suavidade de primavera e disse-me: "moro em um lugar onde talvez nós dois sejamos felizes para sempre algum dia!". Gargalhou da própria ironia, ou não ironia, ou sinceridade, ou fantasia. Sinceramente, minha menina era pra mim um mistério.

mistério que talvez eu nunca mais venha a desvendar.

R.R.
01/03/2009

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Vinho tinto

Nem que eu embarcasse no mais rápido dos jatos. Nem que eu tivesse uma passagem para o trem mais veloz do mundo. Nem que o mais ágil dos carros estivesse agora a minha disposição. Nem que eu soubesse a fórmula mágica de encurtar distâncias.......nem mesmo assim eu conseguiria me alcançar.

Aquela pergunta me corroía por dentro, mas não por si só. A angústia verdadeira estava em não conseguir respondê-la. "Onde foi que você se perdeu?". Pensava em mil e sei lá quantas maneiras, mas.....onde foi que me perdi? O que mais me consumida não era nem o próprio fato de estar perdida, e sim o de ter me perdido de mim mesma e não saber como ou onde me encontrar.

As vezes parecia que eu estava sonhando, e não precisava nem dormir ou sequer fechar os olhos. Eu estava aqui, só, e conseguia me ver lá longe- distante. Eu me observava conversando com as pessoas, rindo e até contando piadas sem destino. Eu me via com um gargalhar tão bem acompanhado no rosto, e nos olhos, que me perguntava: em que parte de mim está tudo isso que eu não sinto?

Certo dia me sentei, sozinha, naquela mesa de canto do nosso bar preferido, sempre abafada pela fumaça vinda do cigarro dos bohemios. Pedi uma taça do nosso vinho preferido e ali fiquei apenas assistindo a cena da peça de minha autoria. O ato era aquele em que eu era a atriz, interpretando o papel de protagonista (no caso eu mesma), acompanhada de meus amigos, inimigos, amores e dissabores. Confesso que nesse dia aplaudi-me de pé. Conversei com todos que me cercavam. Sorri magnifica e encantadoramente para meu amor a direita. Acariciei dissimuladamente a face daquele dissabor a esquerda, como se por ele eu sentisse metade da vontade que se apoderava de mim pelo meu amor direito. Me vi parafrasear sobre bossa nova, política, mentiras e algumas impuras verdades. Falei até sobre tudo, ou quase tudo, que me atormentava como se não me afetasse. E se lhe interessa nem com olhos chorosos fiquei- enquanto o meu desejo era me afogar naquela taça de lágrimas. Pq acabei me aplaudindo de pé? Nem inimigos, nem amigos, nem dissabores, nem amores, ninguém. Ninguém percebeu que eu já nem estava mais lá, se é que um dia estive.

Alguns outros tolos disseram-me ainda: "como você está linda". E eu naturalmente sorri e agradeci, mesmo desejando apenas que as cortinas se fechassem, a luz se apagasse e eu pudesse finalmente me afogar.

Talvez no dia em que as cortinas se fecharem eu tenha tempo de marcar aquele encontro comigo mesma.

...e me afogar em paz!

R.R.
25/02/2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

a luz de velas

O escuro se desfez quando a feia moça ascendeu as velas. bem a nossa frente ela riscou o fósforo e deu luz aquelas magricelas brancas velas. direcionou seu olhar a nós e quando percebeu do que se tratava, logo se retirou. não lhe demos nem tempo para que se fizesse ausente dali.

colocou sua mão sobre a minha, e mais parecia coloca-la sobre o meu coração, tamanho foi o seu disparo. dedos que se enlaçaram, dedos que se contornaram, dedos que se afastaram, dedos que se acariciaram, dedos que se beijaram, dedos que se afastaram. como jamais havia sentido, algo me causou uma epifania sem tamanho. percebi que não era mais tão só. sinceramente não sou capaz de dizer nem quem, nem o que me tocou tanto, sei apenas que senti-me. aliás, acho que identifico aquilo como segurança, porque tudo que me amedrontava, ao toque de uma mão, desfez-se.

eu pensava ser capaz de identificar cada milímetro do que sou feita[emoção], mas há momentos em que eu perco essa certeza. certas coisas que eu faço, ou que fazem, ou que o mundo faz, me fazem ter a convicção de que convicções são apenas convicções. da mesma forma que você as tem, pode deixar de tê-las, ou de inventá-las. se quer mesmo saber, nem sou muito criativa. quando aquelas mãos se tocaram, minhas convicções não queriam mais saber de mim.

disse que eles enlaçaram-se, mas já nem sei mais, vejo que aquilo estava mais para um nó cego, do que para um laço bonito. aliás, nome que encaixou-se perfeitamente: nó cego.

pena é que alguém soprou as velas, e tudo escureceu.

R.R.
10/02/09

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Entre quatro paredes

a questão não são as coisas que acontecem, são as coisas que sinto. as vezes olho para aquela pagina em branco e imagino o que faria ali. poderia ser um desenho cheio de cores, arco-íris, um belo sol amarelo e um riacho azul. poderia desenhar apenas olhos lacrimejando em tons de cinza, branco e preto. poderia apenas pegar a pena quebrada e escrever-lhe.

ao longo do tempo em que meus pensamentos iam se atropelando, a pena cansada ia contornando as letras e delineando meus dissabores. ao longo do papel branco ela contou sobre o dia em que me senti só. sobre o dia que me senti tão só ao ponto de conversar com as paredes, pelo menos elas não tinham o poder de me apunhalar, e ainda aproveitei o fato de dizerem por ai que elas tem ouvidos. e se você quer mesmo saber elas são boas ouvintes.

contei para a parede a minha frente, cor de chuva, sobre meu choro. disse-lhe que meu soluço era de dor. o pranto devia-se a saudade, as alegrias não vividas, a melancolia mal [e talvez nunca] resolvida. falei para a parede cor de chuva que da mesma tinta que ela era feita, pintaram meu rosto, e da mesma forma que ela parecia triste, esta face apenas se enchia de dor. a vezes parecia que sua cor já dizia que ela não chovia, mas chorava. esse pranto incomodo, daqueles que parece que nunca te deixará, que o tempo nunca vai curar, que nunca passará. e eu, um poço fundo de amargura me tornei. expliquei a ela que nem sempre sentir-se só implica não ter ninguém. ela nem mesmo se manifestou contra ou a favor de nada daquilo, e mais uma vez me vi só.

contei para a parede cor de céu que nem todos os dias são de sol e nem todas as noites são sombrias. para a parede cor de céu disse sobre meus sonhos, meus tão profundos e ilusórios sonhos. e depois de descobrir que não passavam de (des)ilusões, mudei a cor da parede cor de céu para parede cor de olho quando chora. mudei a cor de uma parede muda, e o olho chorou, ou se lembrou, ou torturou, ou saudoso ficou, e chorou.

contei para a parede cor de noite sobre as minhas esperanças, vontades, desejos. ela não falava mas refletia através de si o que meu corpo queria. meu corpo espera por um estado de êxtase tão intenso que chega a acreditar em mágica. minhas mãos com esperança de encontrar um sorriso pra tocar. os braços com esperanças de um corpo para enlaçar e dar um nó cego. a boca sente falta daquilo que remove o batom cor de paixão. contei pra parede cor de noite que minhas (des)esperanças agora me deixavam desesperada, e sombria como a mais fria e insólita noite de inverno. contei pra parede cor de noite que por mais que eu quisesse, nem por mais uma noite haveria esperança.

contei para a parede cor de sol sobre meu sorriso. falei pra ela sobre aqueles que me fizeram (des)sorrir, gargalhar, imaginar, pular, gritar e chorar. contei pra minha parede cor de sol que dentro de mim havia uma luz que nem eu mesma era capaz de entender. contei pra mim mesma que gente com cor daquela outra parede tem braços grandes que resolveram me enlaçar. braços tão negros que fizeram de um coração que queria salvar o mundo, um coração que não era mais capaz de salvar sequer a si mesmo. mãos tão sombrias que tiraram o poder de acreditar. e a fé se desfez. Deus é inquestionável. contei para a parede cor de sol que minha fé morreu nos homens.

quando me vi nem mais paredes havia e restava-me apenas chão e teto. céu ou inferno. nem me via mais, apenas lembro-me de quando desfaleci no chão...

R.R.
27/01/09

domingo, 18 de janeiro de 2009

Pequenos negros olhos

estava ela ali, deitada, coberta, respirando linda e calmamente.
eu, na ponta de cá da cama, apenas observava sua magnitude. observava seu sono, leve e ao mesmo tempo cansado. perguntei-me o que se passa ali, quais seriam seus pensamentos, suas vontades, desejos e segredos. queria eu ter a solução para salva-la do seu próprio mundo escuro. queria eu ser capaz de ensina-la a sonhar acordada.
enquanto a olhava percebi que a preferia dormindo; assim não sairiam mais gritos daqueles lindos lábios, não escorreriam lágrimas daqueles negros olhos e eu não sentiria metade da dor que me causa quando acorda. enquanto a olhava percebi que a preferia naquele sono profundo, assim era ainda mais fácil admira-la.
enquanto ela repousava parecia-me descansada, calma e até mesmo sublime. ali eu via serenidade; serenidade essa que eu jamais consegui encontrar quando seus pequenos olhos se abriam e passavam a me observar. aliás, talvez este seja mais um motivo de quere-la adormecida: aqueles tristes olhos não me observarão, e se assim for, não criticarão, não terão chance de humilhar, gritar, escandalizar. se aqueles tristes olhos não se abrirem agora, a amargura daquele coração não me observará, e eu poderei continuar a ama-la. jamais desejo que aqueles negros deixem de despertar pra sempre, apenas hoje, prefiro que eles repousem.
olhos negros fechados, é a solução que tenho para ainda ser capaz de ama-la.
R.R.
18/01/09

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

"eu amo porque te amo
sem explicaçao ou desculpa
eu amo porque te amo
porque amar eh sentido de felicidade
eu amo porque te amo
porque amar eh tudo...
e vc eh tudo pra mim..."

sábado, 10 de janeiro de 2009

Novo vendaval na velha estrada.

Nem eu sei ao certo o que esse vendaval quer fazer comigo, mas veio e já se encarregou de me despentear. Sinceramente, não tenho vontade nenhuma de pentear os cabelos. Surgiu num dia que eu apenas passava distraída por uma destas festas, aniversario das jóias raras que a gnt tem na vida. Sorriu pra mim assim que cheguei. Lembro-me de sentar com o rosto no sentido oposto ao seu. Lembro-me de estar usando aquela saia de seda, estampada, azul, com o tom exato do céu naquele dia. Lembro-me de sentir aquele arrepio descer pela espinha, aquela sensação de estar atordoada e quando olhei para traz, descobri o porque de tantos tormentos. Fez minhas bochechas ficarem ainda mais coradas. Quando dei por mim só sobramos nós e mais uns poucos gatos pingados. Quando dei por mim, nada mais de gatos pingados e vi ali, não mais com um sorriso, mas sua face diária. Uma face que me agradou, e nem eu msm sei exatamente a razão. Sentei-me ao lado do riso que ainda não via, e quando percebi já conseguira fazê-lo surgir pelo menos uma dezena de vezes. Enquanto jogávamos qualquer coisa me olhava dentro dos olhos; sua serenidade quase inabalável me intrigava. Usando palavras com melodia, usando seus gestos para criar a harmonia e de flores se fazia a letra. Foi assim, ao som da sua musica, que, finalmente, você ficou bem mais que perto. Finalmente, sentia dentro do peito uma manhã de primavera com sol e céu azul, com abraços e beijos. É, acho que estou me apaixonando.

R.R.

17/01/09

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Meu pequeno cheiro bom.

só sei que se fecho os olhos posso fazer um desenho. olhos castanhos, ou marrons, como você prefere chamar. cílios devidamente colocados em seu lugar, até aquele diferente dos outros. nada de bochechas rosadas, mas aquela barba mal feita, mal colocada, já que nunca lhe fiz segredo que não gosto dela. nariz comum. boca incomum. lábios, doces lábios que adoro desenhar. se fecho os olhos sinto o cheiro do meu desenho, que não é forte, que não é fraco. cheiro que é apenas cheiro bom de sentir.
só sei que se fecho os olhos posso descrever o olhar que nem vejo. mãos que me tocam, e que conseguem me ver. começam pelo cabelo, que tanto gosta quando soltos. Desce até as bochechas, que sempre ficam coradas. sempre faz graça quando passa pelo nariz e acaba encontrando meu sorriso. é pra lá que acaba indo. o riso acaba, e você fica onde encontra o contraste perfeito. contraste que chama de perfeito, mas que quando digo achar normal, ri de mim.
só sei que se fecho os olhos sinto. se sinto guardo comigo. quando tenho que ir, ainda tenho comigo. que tenho comigo, fecho os olhos, me lembro. E por fim, quando me lembro, fecho os olhos e sinto, sinto o olhar, o gosto de mel, o carinho, o cheiro. só sei que é quando fecho os olhos que sinto.
sei que desenho mal.
só sei que quando fecho os olhos aprendo a desenhar.
só sei que se é quando fecho os olhos que posso desenhar, fecharei os olhos sempre!
R.R.
08/02/09

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pulsante e silencioso, Amor, ele se declara.

Amor, se um dia este sorriso se apagar, não te preocupes, talvez ele jamais tenha estado lá e você nem tenha tido a chance de perceber. hoje vim aqui para lhe contar das dores e amarguras que meu peito sente. ele pouco se importa em admitir suas fraquezas e temores pra você. hoje eu vim aqui pra lhe falar do que este peito calava, e pra sempre sentiu.
sabe amor, por vezes este meu pulsante e silencioso coração bateu pra você, mas ele decidiu que nem se importa mais; que nem te ama mais. se quer mesmo saber Amor, foi ele quem me fez escrever pra você, porque se fosse por mim teria apenas me mantido. se fosse por mim ainda seria como sempre foi: silêncio que grita tanto que nada no mundo se move.
Amor, não se sinta triste em ouvir isso de mim, aliás é meu coração quem lhe fala, e não eu. como já lhe disse ele pediu apenas pra que te informasse que ele passará a não ligar mais pra você, assim como eu faço. ele pediu para te dizer que a decisão de não te amar mais não foi fácil, mas que ele nem mesmo gosta do que é fácil. esse pobre coração já se sentia tão só que me obriguei por várias vezes a acompanhá-lo, para que ao menos assim ele não sofresse sozinho, ou novamente calado. eu o vi entristecer-se tão frequentemente e repentinamente que foi apenas um ato de "auto-salvação".
foi através de uma desesperada e triste conversa que meu coração me convenceu a lhe falar, ou lhe confessar. ele chorava tanto que deu pena. estranho é reconhecer que eu mesma tive pena do meu próprio coração. ele tomou essa decisão enquanto se lembrava de coisas que nem vivemos ainda. é sim, ele se lembrava Amor, ele não imaginava. pode ser que me perguntes como um coração é capaz de lembrar de algo que ainda nem viveu? deixo a resposta por conta dele mesmo: eu lhe amava tanto amor, mas tanto, que fui capaz de viver nosso futuro antes mesmo que ele tenha chegado. eu lhe amava tanto que fui capaz de amar uma pessoa que você nem se tornou ainda. eu lhe amava tanto que amei as rugas que você ainda nem tem, a bengala que você ainda nem precisa, os feios vidros que se apresentarão diante dos teus olhos, devido a vista cansada, e os cabelos brancos que ainda nem lhe nasceram. eu lhe amava tanto que amei aquela sua mania de inventar palavras que ainda nem apareceu, amei ter que olhar a hora certa dos seus remédios, amei perder as noites de sono pra cuidar de você. eu lhe amava tanto que amei costurar os botões das suas camisas, amei ter que usar a imaginação para lhe dar um presente diferente a cada aniversário, amei tricotar em frente a TV enquanto você assistia ao jogo do time que você ainda nem é simpatizante. eu fui capaz de lhe amar tanto que lhe amarei até o fim de uma vida. mas meu coração? esse já não lhe ama mais.
R.R.
05//01//09
"As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – no que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa. Atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Quero o outro perto, eu distante de mim. Hoje em dia eu nem sei o que sei, e, o que soubesse, deixei de saber o que sabia. A gente só sabe bem aquilo que não entende. Meu coração é que entende, ajuda minha idéia a requerer e traçar."

Guimarães Rosa

sábado, 3 de janeiro de 2009

auditório.

APLAUSOS. e assim vejo aquela placa luminosa ordenar pra grande platéia da vida. APLAUSOS. o assim vejo a grande multidão seguindo a ordem que vem de não sei quem, e fazendo mesmo assim, só porque o indivíduo da cadeira ao lado fez também. APLAUSOS.
R.R.
04/01/09

B(b)ela A(a)dormecida

adormeceu ali, com expressão dura na face. olhos irritados por um choro triste, rosto molhado por algo que não era água e lábios pintados por algo que não era rouge, não era tinta e mais parecia reflexo de dor intensa. tinha um riso contido enquanto sonhava, riso que nem parecia riso de tão contido que parecia. as mãos, fechadas, pareciam segurar forte alguma coisa, mas sei que nada seguravam. sei que aquelas mãos se fechavam apenas porque só tinham a si msm pra se segurar. a respiração, até mesmo quando lenta, era cansada. nem mesmo quando dava seus suspiros mais profundos parecia aliviada. inspirava seus dilemas, e nem quando soltava o ar parecia que conseguia se desfazer dos mesmos. pobre dela, menina moça da pele clara como o dia, de cabelos negros como a noite e de sonhos profundos como um mar turbulento. adormeceu ali de cansaço. adormeceu ali não porque seu físico a levou a exaustão, mas porque sua mente a torturava. menina que pede pra dormir. menina que dormiu porque desaprendeu a sonhar acordada. menina que o mundo desiludiu. menina que dá graças, simplesmente porque apesar de não saber mais sonhar depois que acorda, ainda sabe dormir.
R.R.
03/12/09

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Razão, a você, um bilhete de adeus.

estava pensando sobre as minhas loucuras hoje, e me senti tão normal. sempre digo pra que as pessoas sejam menos controladas, tenham menos pudor, pra que elas sintam mais e pensem menos. hoje cheguei a conclusão que sou tão louca quanto qualquer um que vive fora dos hopicios. conclui mais ainda, vou fazer a loucura tomar conta de mim...antes que seja tarde.
sempre ouço dizer que "nunca é tarde demais", mas sempre ouço dizer também "nunca diga nunca". quantas idéias tolas resumidas em frases tão curtas. por isso que eu sempre digo: não vale a pena dar ouvidos aos outros. Se dizem pra que vc nunca diga nunca, ao mesmo tempo te dizem que 'nunca' será tarde demais para qualquer coisa. a contradição faz parte das pessoas, e isso as empobrece como gente. digo isso porque jah conheci muita gente indecisa na vida, e nunca vi indecisão levar ninguém a lugar algum. as pessoas costumam dizer tanto, falar bonito, aconselhar e no final das contas nem nós mesmos temos coragem o suficiente pra fazer o que temos vontade. aliás no final das contas ninguém tem coragem de ser louco o suficiente pra mudar alguma coisa.
é possivel que não me compreendam, e isso não me assusta nem um pouco. mas a essas pessoas eu diria que decidam optar pela loucura uma vez por semana pelo menos. pensar demais acaba fazendo com que vc deixe de sentir as devidas sensações que a vida traz. quando você pensa demais no que quer fazer deixa de agir, acaba simplesmente pensando e ai cada vez mais se tornando uma vitima da inercia. viver por inercia eh deprimente.
aquele 'Q' de louca que bate forte no peito, gritando querendo sair, deu seu ultimo supiro interno. agora, qualquer coisa que queira gritar em mim terá sua chance, porque a vida é uma só. eu vim ao mundo pra sentir. eu vim aqui pra te fazer ser insano e sair desse mundo de lucidez e eterna consequencia. desejo a você uma pouco de loucura...sanidade demais provoca vida de menos!
R.R.
02/01/09