terça-feira, 10 de maio de 2011

Vida pequena.

Eu queria muito poder puxar a cadeira velha, o coração angustiado e me sentar em frente a Deus e apenas conversar. Imagine só que petulância, eu, uma reles criaturinha tendo a dádiva de bater um papo cabeça com o onipresente, onisciente, onipotente. Eu sei que é pedir muito, mas de que adianta sonhar se for pra ter limite?

Não sei se começaria perguntando como é saber o pq de tudo e já tentaria satisfazer diretamente minha curiosidade sobre o mundo.

Me vendo sentada ali, de frente para um rosto que, tenho ctz, me seria familiar, deixaria apenas que ele falasse. Sem mais interjeições ou interrogações. Pela primeira vez na vida, ouviria, sem mais.

Enquanto não pude falar diretamente com Ele, segui ouvindo a alma daqueles que são sua ponte mais direta. Acreditava mesmo que Deus usa as pessoas para nos atingir, mandar recados ou apenas nos consolar.

Sinto que quando a angustia bateu, Ele me mandou um par de olhos azedos com um doce abraço pela manhã. Sinto que quando a tristeza me atingiu, de alguma forma, alguém que eu realmente amava apareceu com qlqr palavra doce e me aliviou a alma. Sinto que quando a solidão apertou, sempre deu-se um jeitinho do som fino daquela voz me acalmar. Sinto que quando o choro chegou a se transformar em soluços, Ele a trouxe até mim, com aquele nariz fino, olhos grandes, corpo maaagro e coração gigante. Ele sabe tão bem quanto eu que foi a única que conheceu a fundo minha fragilidade.

Agradeceria de joelhos a Deus pelas pessoas que li. Elas me fizeram pensar sobre a falta de sentido da vida, sobre a total inutilidade do trabalho, sobre o amor (ou a falta dele), sobre a paz, fome, solidariedade, ambição, generosidade e tudo mais sobre o que há para se pensar nesse mundo. Li ideias cretinas ou sublimes de gente que sequer conheço e, várias vezes, teci dali a minha identidade.

E pensar que pode ser daqui algumas horas ou quando eu atingir meus 70 anos. Sentar-me com Deus e ouvi-lo falar sobre o que eu vivi, sobre meus grandes erros, sobre as brigas entre eu e ela, sobre meus filhos ou porque decidi não tê-los. Me explicar meu enorme receio em amá-los (obviamente aqui não falo dos meus supostos filhos). Talvez seriam mais 70 anos de conversa.

Parando agora pra analisar, se a morte viesse me buscar bem antes de eu atingir a "melhor idade" não sei se eu reclamaria. Mas hoje eu não me daria por orgulhosa e menos ainda por satisfeita com o relato da minha vida. Foram poucos anos bem vividos. Ainda quero ter um bom emprego, ganhar dinheiro, ajudar tanta gente, vê-la crescer, ter a sensação de que vou morrer se tudo entre eu e ele terminar. Ahaaa! Brincadeirinha. Não desejo nada disso.

Acho sonhos a longo prazo uma enorme perda de tempo. Aliás, os que tenho e que não podem ser realizados até o fim desta semana não são verdadeiramente meus. Estão bem mais para idealizações de papai e mamãe para um futuro que eles imaginam que eu terei.

Disse que não me daria por orgulhosa pq não fui capaz de ajudar muita gente, e não por não possuir uma carreira de sucesso. Existe muita gente no mundo com fome, frio, sede e desejo de amor pra eu me preocupar só com isso. Não me daria por orgulhosa por não ser pra ela o melhor exemplo do mundo e por ter lhe transmitido um geniozinho tão difícil.

Minha insatisfação se revela em não ter me descabelaaaado de tanto gostar. Dou-me por insatisfeita se não fiz feliz quem merecia. Sei que sou extremamente carinhosa quando eu quero, mas meu dom pra ser cretina sempre foi maior. Diga-se de passagem nunca optei por não conseguir ser sentimentalóide demais (me perdoem aqueles que magoei por isso), mas as vezes o fato de alguém me querer mediante tantos defeitos me assusta um pouco. Dou-me por insatisfeita pela minha falta de paciência e por não ter sabido controlar a minha saudade.

Poucos anos bem vividos? Bem, eu fiz o possível enquanto tive chance, mas acabei me tornando uma pessoa que eu não queria DE JEITO NENHUM ser. Pq? As vezes as atitudes das pessoas que te cercam podem te atingir muito mais diretamente do que você imagina. Quando eu não tinha responsabilidades era tudo bem mais fácil, eu chorava por BEM pouco e ainda me achava uma mártir. Prazer, responsabilidade personificada, olhos secos e coração nada mole. É estranho. Acabei tendo contornos que eu nunca idealizei e até pintando os cabelos, imagine só!


Enfim, queria sentar-me com Ele e ouvir uma breve explicação. Talvez um pouco de sentido a tudo isso fosse capaz de ajudar.