segunda-feira, 13 de abril de 2009

e eu que aprendi a chorar menos, a ser menos sensível e a deixar de sentir dor. tantas vezes disse não ser capaz de fazer auto-reconhecimento, e nunca houve alguém que me desse razão.

era menina de choro fácil, de coração mole, de dores frágeis e de inconstância sentimental. era sonho em essência, era certeza de alcançar o desejado. era menina capaz de correr atrás de estrela cadente. era: verbo ser,2ª conjugação, na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito. simplesmente era, e isso era a satisfação por completo.

parece que a gente cresce e se amargura. pra uns pode parecer escolha, pra outros nem tanto. o fato é que a vida vai levando a gente, e quando a gente se vê já não sabe se é quem os outros acreditam que nós somos, ou se somos quem desejam que sejamos. e talvez nem possamos ser mais quem queremos ser. a gente vai deixando de ser a gente, deixando de ser gente, e acaba se transformando naquele bando de qualquer gente que antes achava qualquer coisa a nosso respeito. no fim a gente acaba nem sabendo quem quer ser, ou se, de fato, somos ou deixamos de ser.

talvez não tenha ainda um choro difícil, mas aprendeu como sufocá-lo. talvez sinta vontade de chorar, mas as lágrimas lhe faltem. talvez o desabafo daquele peito ardido que antes saia pelo soluço tenha se transformado num silêncio calado. e talvez porque desaprendeu a chorar vive triste a sofrer. o coração já não sofre com pena de si mesmo, e menos ainda pena alheia. coração metade pedra, metade gente. talvez a dor tenha se feito pedra...e o coração mais duro ainda. talvez a essência ainda exista, mas deixou de ser essência. sonho deixou de ser vital e passou a ser normal. as certezas são mais incertas do que nunca e corres atrás de estrelas hoje é apenas coisa de menina.

era..........um pretérito que talvez nem seja tão perfeito assim.

R.R.
13/04/09