domingo, 18 de janeiro de 2009

Pequenos negros olhos

estava ela ali, deitada, coberta, respirando linda e calmamente.
eu, na ponta de cá da cama, apenas observava sua magnitude. observava seu sono, leve e ao mesmo tempo cansado. perguntei-me o que se passa ali, quais seriam seus pensamentos, suas vontades, desejos e segredos. queria eu ter a solução para salva-la do seu próprio mundo escuro. queria eu ser capaz de ensina-la a sonhar acordada.
enquanto a olhava percebi que a preferia dormindo; assim não sairiam mais gritos daqueles lindos lábios, não escorreriam lágrimas daqueles negros olhos e eu não sentiria metade da dor que me causa quando acorda. enquanto a olhava percebi que a preferia naquele sono profundo, assim era ainda mais fácil admira-la.
enquanto ela repousava parecia-me descansada, calma e até mesmo sublime. ali eu via serenidade; serenidade essa que eu jamais consegui encontrar quando seus pequenos olhos se abriam e passavam a me observar. aliás, talvez este seja mais um motivo de quere-la adormecida: aqueles tristes olhos não me observarão, e se assim for, não criticarão, não terão chance de humilhar, gritar, escandalizar. se aqueles tristes olhos não se abrirem agora, a amargura daquele coração não me observará, e eu poderei continuar a ama-la. jamais desejo que aqueles negros deixem de despertar pra sempre, apenas hoje, prefiro que eles repousem.
olhos negros fechados, é a solução que tenho para ainda ser capaz de ama-la.
R.R.
18/01/09

3 comentários:

nai ara disse...

obrigada pela visita!
andei vendo os textos daqui e sim, voltarei sempre...

este agora, nossa... q forteeee
q triste
e q verdade. amor d literatura é aquele que s se sente quando o ser amado não grita com a gente.

Larissa Caixeta disse...

Descrição. :X

Lupe Leal disse...

forte esse. um amor bruto casado com a beleza de um doer demais.

um abraço.